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As 3 Metamorfoses do Espírito


Na jornada para nos tornarmos cada vez versões mais verdadeiras e mais fortes de quem nós realmente somos e tocarmos a nossa essência mais profunda muitas vezes temos de passar por processos evolutivos, sendo que estes podem em várias ocasiões estar recheados de dor e sentimentos mais negativos. Hoje quero apresentar-vos uma ideia que sempre considerei ser extremamente original e que me fornece ainda hoje em dia uma ajuda constante no meu próprio processo infindável de me tornar cada vez mais autêntico. Esta ideia vem de um dos grandes filósofos do século XIX, nomeadamente Friedrich Nietzche e consiste numa metáfora bastante interessante. Segundo Nietzche, na nossa vida passamos por três fases de evolução do nosso espírito, sendo cada uma destas representada como um animal. A primeira fase é apresentada como o camelo. Esta fase é apresentada com a imagem deste animal a percorrer o deserto com um fardo gigantesco nas suas costas, cansado mas extremamente obediente. Nas suas costas são carregados todos os deveres, obrigações, responsabilidades sociais e normas morais, que prendem o camelo a um estado contínuo de cansaço, de falta de verdadeira expressão do espírito, de obediência cega. Todavia, o espírito enquanto na fase deste quadrúpede, deseja que lhe ofereçam mais carga, pois quer testar a sua resistência ao máximo, perante o deserto seco e infindável que à sua frente lhe aparece. Passado algum tempo, que por si não é definido, o espírito revolta-se contra a sua condição enquanto camelo navegante num deserto árido e gigantesco e aí transforma-se num leão imponente, que é o animal que caracteriza a segunda metamorfose do espírito. Este animal majestoso retrata a revolta contra todas as cargas anteriormente depositadas no camelo, todas as normas e deveres sociais e morais que durante muito tempo aprisionaram o espírito, e assim o leão continua a percorrer o deserto, destruíndo uma a uma as suas cargas aprisionantes. Todavia, o leão só consegue se tornar verdadeiramente livre quando defronta o maior dos inimigos à liberdade do espírito humano, que está representado com um grande dragão cujo nome é “Tu deves”, que se opõe completamente a este leão, que diz “Eu quero”. Este dragão impede o caminho ao espírito na sua vontade de querer liberdade total e brilha de ouro, coberto de escamas, onde cada uma destas reluz em letras de ouro as palavras constituintes do nome do dragão: “Tu Deves”. O dragão diz para o leão: “Em mim brilha o valor de todas as coisas. Todos os valores foram já criados no passado, e eu sou a soma de todos os valores criados. Na verdade, para o futuro não deve existir o 'eu quero”. De forma a continuar a jornada para a total obtenção da liberdade do espírito é necessário que o leão derrote este dragão com a sua vontade inerente de se emancipar, de dizer que não às obrigações milenares que as normas sociais põem sobre nós. Porém, o leão não é suficiente para cumprir a vontade da alma humana, pois embora possa ter a força de quebrar antigos condicionamentos, não possui a capacidade de criar novos valores do zero e para isto é necessário a última metamorfose do espírito, que ocupa a forma curiosa de uma criança. Muitos se perguntarão porque é que a última metamorfose se trata de uma forma tão frágil, inocente e leve como a da criança, mas Nietzsche explica-nos isto de forma perfeita. Só quando nós, depois de nos libertarmos das correntes que nos aprisionaram, tornamo-nos crianças é que temos a possibilidade de criar verdadeiramente sem estarmos condicionados pelo que já nos aconteceu. A criança, com a sua inocência, permite um começo do zero para emergir o Super-Homem, alguém que vive de acordo com as suas regras e não as de outrém. É preciso o olhar fresco e não condicionado de uma criança para se criar verdadeiramente livremente e originalmente um novo mundo. Para finalizar, é necessário entender que na filosofia de Nietzsche este processo nunca termina, pois a criança, após criar novos valores e um novo mundo acaba por se tornar outra vez num camelo, pesado com os fardos que agora já não servem outra vez o espírito humano e assim as três metamorfoses continuamente se substituem umas às outras com o eterno objetivo da auto-criação de nós mesmos, um processo que por si é infinito e que na minha opinião é a grande felicidade de sermos humanos, a capacidade de nos podermos reinventar constantemente em versões cada vez mais iluminadas e fortes de quem nós somos.


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