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Como ser feliz?

Tempo nada mais é do que uma pequena ventania que abana gentilmente as folhas de uma árvore , uma pequena e irreverente onda no oceano vasto que é a eternidade. Dentro desta insignificante onda vivemos nós,muito apertados, talvez por sermos demasiados.Talvez seja mesmo por isto que estejamos a afogar-nos, a sufocar em tempo, pois com tantos de nós, parece que nunca existirão horas suficientes para cada um se realizar, nesta reduzida onda.

Todavia, pensamos que esta onda é a totalidade do oceano, por ser a única coisa que a maioria tem acesso durante o seu periodo de vida. Vivemos um fenómeno irónico nos nossos dias como humanidade, a que eu gosto de chamar,o fenómeno de gerações.

Quando somos jovens, entusiasmados e apaixonados, habitamos os nossos dias a viver no futuro, que ainda é longo e misterioso, contemplando as maravilhas que ele nos pode reservar, ainda que o mesmo nada nos garanta. Alguns em vez disto, escolhem passar o seu quotidiano a visualizar o que poderá correr mal no tão falado horizonte e muitos ficam no meio termo, por vezes deliciados, outras assustados,mas sempre com o mesmo objeto de atenção.

À medida que envelhecemos e as horas são gastas, começando a ficar curtas, existindo cada vez menos futuro à nossa frente, começamos a viver tendencialmente para o que se torna cada vez maior a cada segundo que passa,o passado.Aqui, deliciamo-nos e atormentamo-nos,com o sabor doce da melancolia e da saudade, que quando usadas em excesso, tal como açucar, começam a enjoar-nos mais do que a satisfazer as nossas necessidades.

Depois de dois grandes casos amorosos, primeiro com a paixão adolescente que tivemos com o futuro e depois o amor quente com o passado,morremos. Mas, mesmo com isto tudo, morremos insatisfeitos, ansiosos e stressados, como se nunca tivessemos experienciado o melhor dos sabores, a mais quente das paixões e o mais terno amor. Que terá faltado?

Com tanta preocupação e desejo pelo futuro,com tanto saudosismo e tristeza pelo passado, esquecemo-nos de viver verdadeiramente. Esquecemo-nos de ver cada momento como o primeiro e o último, de maravilharmo-nos com as coisas simples, com um sorriso, com uma flor,com uma palavra e com uma canção. Negligenciamos aquela criança que nos diz para sabermos brincar com tudo o que é do mundo, porque temos de ser adultos. Mas não é um qualquer tipo de adultos, é um bem especifíco, o adulto que nada mais é que uma máquina de execução de responsabilidades, um verdadeiro robot, que serve as estruturas sociais sem antes as analisar primeiro.

Temos tendência a desvalorizar o que nos é próximo, o que nos é dado, porque pensamos ser menor,inferior. Não percebemos que as coisas que verdadeiramente importam, são todas grátis e não podem ser compradas em supermercados ou em lojas de roupa. O quão maravilhoso era ir comprar um quilo de felicidade, dois quilos de amor e talvez um quilo de prazer, mas secretamente,para podermos gozar do estatuto de santo.

A vida só existe agora e este momento,é casa da eternidade.Aqui, vivem todos os artistas, génios loucos, profetas e más-linguas. É uma casa grande, afável e calorosa,recebendo desde o maior patife ao maior santo, sem os descriminar, amando-os a todos. Ama-os,porque tem espaço para os receber, porque é um oceano inteiro, e não apenas uma pequena onda. No que é pequeno, não cabe o grande, a tacanhez não gosta de partilhar,mas o mesmo não acontece quando viramos os papeis. Ninguém ama sem espaço,quem o diz que o faz,ainda não percebeu o que é amar.


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