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Porque é que nos atrai tanto o Futebol?


Durante os vários milénios que constituem a nossa história humana tivemos sempre uma admiração maior por aqueles no meio de nós que se destacaram por conseguirem ultrapassar as maiores barreiras e limitações físicas que o corpo humano e o mundo nos faziam crer serem reais. Já os gregos da Antiguidade Clássica tinham a necessidade de elevar o desporto e a excelência que a ele está associada fundando inclusivamente os Jogos Olímpicos, competição que teve a sua origem há mais de 25 séculos atrás exatamente na cidade - estado de Olímpia.

A tendência para a glorificação do desporto sempre existiu nas várias civilizações que passaram por este planeta, variando apenas as formas e práticas desportivas entre culturas.

Todavia, sobre um olhar meramente racional, parece não existir nenhuma razão coerente para todos nós nos sentirmos especialmente atraídos por modalidades desportivas, como por exemplo, o futebol, onde o único objetivo é conseguir fazer entrar uma bola dentro de um rectângulo com redes mais vezes do que a equipa adversária.

Sobre esta perspetiva puramente racional realmente os desportos tratam-se de apenas ações mecânicas realizadas várias vezes sem nenhuma grande racionalidade aparente por detrás, mas este tipo de pensamento é por si um pouco ignorante, na medida em que não consegue atingir a verdadeira dimensão que todos os desportos tocam e influenciam dentro da consciência de milhões de humanos tanto atualmente como no passado.

O desporto apela a uma necessidade humana que a maior parte dos chamados “intelectuais” não consegue perceber porque também não quer aceitar a sua existência, nomeadamente estou a falar da tão entranhada irracionalidade do Homem.

O Homem não é um ser constituído apenas por uma única dimensão, mas por várias, que muitas vezes parecem entrar em contradição umas com as outras, e neste caso específico, parece que a dimensão da racionalidade não consegue aceitar em si a da irracionalidade, quase que parecendo ser contraditórias e que se anulam uma à outra.

Porém, esta contrariedade é apenas superficial e ultimamente ilusória, pois na realidade elas existem em simultâneo na psique humana, perfeitamente encaixadas uma na outra, só a nossa falta de visão é que acaba por criar conflitos internos.

A racionalidade pode identificar-se com a vontade do nosso intelecto ou mente e a irracionalidade também pode ser vista como a vontade do nosso coração ou centro mais profundo.

O desporto atrai tanta gente, e neste caso o futebol, não porque seja racional, pois verdadeiramente tem muito pouca dimensão analítica em si mesma, mas exatamente por ser acima de tudo irracional, permite-nos uma libertação da racionalidade extrema que muitos sentimos ser obrigatório e exigida todos os dias do nosso quotidiano nos vários papeis sociais que desempenhamos desde que acordamos no nosso centro familiar até ao mundo da nossa profissão ou estudo.

O racional, quando exacerbado tende a querer eliminar ao máximo todas as tendências irracionais do espírito humano, e isto não poderia ser mais prejudicial para o Homem, pois esta dimensão também é sumamente importante na existência humana.

O desporto, como representação prática do irracional, liberta-nos da opressão de uma racionalidade totalitária, exigente e constantemente alerta nos nossos dias, permitindo-nos explorar perspetivas mais instintivas e muitas vezes ligadas ao nosso coração que nos dão paixão e prazer de viver.

Devemos aceder aos desejos mais profundos da nossa alma e usar o racional para concretizarmos esses mesmos propósitos no mundo físico, sendo a nossa mente apenas um instrumento de concretização das intenções da nossa alma, que aparecem sempre como incompreensíveis aos olhos de uma finalidade puramente racional e esvaziada de sentido irracional.

Não apelo aqui a que nos tornemos puramente irracionais, pois isso seria apenas alienação da realidade das coisas, mas chamo à atenção para podermos criar um equilíbrio saudável, pois só assim conseguimos alcançar um estado de serenidade e felicidade em nós.

O futebol, bem como os outros desportos, também despertam a sensação de que somos ilimitados. Quando quebramos um obstáculo aparentemente impossível, quando vencemos aquela equipa que supostamente é invencível, estamos a afirmar que a nossa alma é maior do que qualquer obstáculo, que a nossa paixão consegue queimar todas as barreiras e surge em nós a felicidade de reconhecermos, pelo instinto, a nossa natureza infinita e eterna que carateriza o nosso Ser mais profundo.

Divirtam-se e não tenham vergonha de sentirem prazer na irracionalidade, pois esta é a criadora de paixão e alegria das nossas vidas.

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